ÁGUA-VIVA IRUKANDJI

As águas-vivas, criaturas marinhas estranhas e misteriosas, existem há mais de 650 milhões de anos. Elas pertencem ao grupo dos Cnidários, ou Celenterados, representado por milhares de espécies diferentes, todas tendo como característica comum a boca no centro do corpo e cercada por tentáculos bamboleantes.

Sua aparência semelhante à de um cogumelo gelatinoso é estranha e até certo ponto surrealista, mas esconde muitas vezes um animal extremamente perigoso, do qual o homem deve manter-se convenientemente afastado.

A Irukandji (Carukia barnesi) é uma dessas espécies. Encontrada nas águas das quentes praias australianas, ela era praticamente desconhecida até meados da década de 1960, mas sua presença nas águas costeiras do litoral norte da Austrália – e em outros locais dos oceanos Índico e Pacífico – tornou-se cada vez mais ameaçadora.

Com massa corporal do tamanho de uma unha e tentáculos de apenas alguns centímetros, (veja ilustração acima), ela possui um veneno tão forte que já levou centenas de pes-soas à morte. As reações provocadas por esse tipo de envenenamento são diagnosticadas como Síndrome de Irukandji.

Este conjunto de sintomas é provocado por um envenenamento angustiante, secundário à picada da Carukia barnesi e outras medusas ainda não identificadas, encontradas em águas costeiras da Austrália tropical.

Acidentes desse tipo foram relatados no Ha-vaí, Caribe, Ásia e Papua Nova Guiné, e nesses casos a hipertensão arterial com risco de morte e edema pulmonar pode se desenvolver.

Há pouco tempo, na Austrália, duas mortes foram atribuídas a esta condição, porque um antídoto para o veneno da Irukandji ainda não foi desenvolvido

A picada inicial geralmente não é sentida pela vítima, havendo, inclusive, uma pequena demora para o aparecimento de sintomas sistêmicos. Sinais locais do envenenamento provocado pela água-viva (tão pequena que cabe em um pequeno tubo de vidro, como mostra a ilustração ao lado), tais como equimoses ou alterações dérmicas, são mínimos ou ausentes.

Porém, meia a duas horas depois do contato com a agressora, tempo gasto pelas toxinas para atingirem o coração e o sistema nervoso do agredido, alguns sintomas sistêmicos se desenvolvem no mesmo, como a sensação de perigo iminente, agitação, vômitos, sudorese generalizada e dor nas costas, nas pernas e no abdome.

Além disso, ele também é acometido por um mal estar psíquico caracterizado pela mudança repentina e transitória do seu estado de ânimo (disforia), com sentimentos depressivos, de tristeza, pena, angústia, melancolia e pessimismo. Hipertensão arterial e taquicardia são comuns.

As pessoas picadas também podem apresentar outros problemas graves, como cardiomiopatia tóxica, choque cardiogênico, edema pulmonar e hemorragia intracerebral, que costumam ocorrer após 3 a 4 horas da picada, provavelmente devido à hipertensão não controlada.

A água-viva Irukandji dificilmente é percebida a olho nu. Apesar de hoje ela ser considerada como o menor animal vivo capaz de matar um homem adulto, muito pouco se sabe a seu respeito.

Somente de poucos anos para cá é que mortes provocadas aparentemente por causas normais passaram a ser associadas às toxinas de uma água-viva. No presente, a Universidade de Cairns, localizada no extremo norte de Queensland, entre a Floresta Tropical e a Barreira de Corais,na Austrália, vem efetuando pesquisas sobre esse diminuto, mas extremamente perigoso animal marinho.